O entrevistado desse mês para o quadro Fut Writer Entrevista é o comentarista dos canais ESPN e colunista da Folha de São Paulo: Rodrigo Bueno.
1-Rodrigo, você sempre sonhou em ser jornalista? Conte um pouco paraa nós como e quando começou sua relação com o jornalismo.
Não sonhava com isso não, queria ser jogador de futebol e, talvez, escritor. Sempre gostei de escrever, mas não sabia ao certo que tipo de trabalho com comunicação faria. Prestei vestibular para jornalismo, publicidade, relações públicas, psicologia... O jornalismo era o que mais me encantava disso tudo e foi o que abracei. Não posso mais ser jogador de futebol, porém estou trabalhando para virar escritor.
2-Seu avô materno, Manuel Guerra y Guerra, ajudou a fundar e jogou no Galícia Esporte Clube, equipe de futebol de Salvador-BA. Ele que o fez gostar de futebol? Se não conte um pouco quando começou a gostar desse grandioso esporte.
Meu vô não é muito ligado em futebol, mas estava na Bahia no início dos anos 30 e seus amigos de padaria fundaram o Galícia. Ele até pegou no gol do time em amistosos que não aparecem na lista de primeiros jogos da equipe. Como é galego, teve orgulho em contribuir para a fundação da equipe, que teve muito sucesso nos anos 30. Depois, meu vô veio para São Paulo e perdeu contato com os amigos do Galícia. Ele torce pelo Celta de Vigo e pelo Real Madrid, da Espanha. Por causa dele, tenho simpatia por esses dois times e pelo Galícia. Ele hoje tem 96 anos e, vez oo outra, assistimos a jogos juntos, ele curte bastante. Especialmente os jogos do Real Madrid ou do Campeonato Espanhol procuro ver com ele, quando é possível. Em São Paulo, ele torce pelo Santos, e não por causa do Pelé. Ele gostou do time campeão paulista de 1935, o ''campeão da técnica e da disciplina". Eu fui praticamente orbigado a ser são-paulino por conta do meu pai, esse sim um fanático. Meu vô é mais esportista, vê jogos de todos os times, elogia todos. Meu pai vive com coisas do São Paulo todos os dias e influenciou os filhos. Dos times grandes do Brasil, meu primeiro é o São Paulo, e o segundo é o Santos. Isso casa bem com minha adoração por clubes de grande tradição internacional. Torço para vários mundo afora: Ajax, Liverpool, Milan, Benfica, Bayern, Independiente, Peñarol...
3-Fica claro de que você gosta e acompanha mais o futebol internacional do que o nacional. Quando e como voê começou a acomapnhar e gostra tanto assim do futebol internacional?
Começou nos anos 80 com as transmissões do Campeonato Italiano. Virei fã do Milan muito por conta de Gullit e Van Basten. Enquanto quase todos no Brasil torciam pelo Napoli por causa de Maradona e Careca, eu vibrava com o rubro-negro dos holandeses. Logo fiquei interessado em acompanhar a seleção laranja. Vi a Eurocopa de 1988 torcendo pela Holanda e fui coroado com o título. Quando o Van Basten marcou aquele golaço na final contra a URSS, prometi que torceria para sempre pela Holanda. Mantenho a promessa.
4-O futebol inglês vem sofrendo um constante processo de globalização.Isso ajuda ou atrapalha o futebol inglês, em relação ao English Team e aos jogadores locais?
Vejo essa situação de duas formas diferentes. É óbvio que os jogadores ingleses perderam espaço nos clubes britânicos com a globalização da liga, tanto que uma regra adotada na Premier League deste ano visa estimular a contratação de atletas locais pelos times. Porém vejo que essa globalização melhorou o nível do jogo em muitos casos. Temos muitos bons atletas ingleses, talvez um pouco influenciados por esse estilo mais solto que forasteiros, como o técnico francês Arsène Wenger, trouxeram para a terra da rainha. Hoje, há uma mescla de estilos no futebol inglês. Encontramos desde o velho e tosco estilo britânico de ligação direta e chuveirinho até equipes altamente técnicas e sofisticadas, como Arsenal, Chelsea e Manchester United. Para a liga, isso é bem bacana, só a ajudou a ser a mais badalada do planeta. Para a seleção inglesa, a julgar pelos resultados, essa globalização não foi boa, porém acho que são outros motivos que explicam os fracassos recentes do English Team. Não dá para dizer que faltam bons jogadores ingleses para a seleção vendo Lampard, Gerrard, Terry, Rooney, A. Cole. J. Cole, Walcott, Ferdinand...
5-Você já cobriu 4 Copas do Mundo, sendo 3 delas no exterior. Com isso sabe bem os processos que as sedes passarma para organizar a Copa. Com toda essa sua experiência, acredita que o Brasil pode sediar bem a Copa de 2014?
Pode sim, organizar uma Copa não é tarefa difícil. São relativamente poucos jogos. O país não muda tanto com o torneio em si. A competição é montada para a TV, assim quem está no estádio é uma minoria que pouco interessa para os organizadores. Garantias básicas e mínimas fazem uma Copa acontecer. A Fifa extrapola em suas exigências para estádios, mas a bola rola e já rolou em muitas arenas simples. O caderno de encargos é um tanto quanto fantasioso. Se o Brasil não atender a muitas das medidas impostas ali, algo que já aconteceu em outros Mundiais, a Copa vai acontecer do mesmo jeito no Brasil e pronto. Copa é muito vontade política. Tinha que ser na África e foi. Tem que ser no Brasil e será. Teve que ser na Ásia e foi. Teve que ser nos EUA e foi. Cada um com seus problemas, limitações e culturas, realizou seu Mundial sem maiores questionamentos. Será assim no Brasil também.
6-Você já esteve em estádios tanto brasileiros tanto estrangeiros, quais são as diferenças que niniguém nota, mas que são grandes em relações aos dois?
Os estádios brasileiros, de uma forma geral, são grandiosos e velhos. Foram construídos numa época em que o propósito era aglomerar o maior número possível de pessoas. Não é à toa que muitos dos nomes dos nossos estádios terminam com ''ão". O conforto não era prioridade desses estádios, e sim erguer um cimentão para abrigar milhares e milhares de pessoas quase como se fossem gado. Nos últimos anos, esses estádios já começaram a rever suas prioridades, reduziram sensivelmente suas capacidades iniciais e se modernizaram, ganharam camarotes, assentos e ficaram bem mais próximos das boas arenas de outros países. Talvez o que ainda seja uma diferença é o comportamento do torcedor, acostumado ainda aqui a ver jogos de pé e a não respietar seu local marcado. Alguns detalhes que deixam os estádios mais requintados, notadamente cobertura e teão, são ainda raridade no Brasil. Isso deverá mudar na Copa de 2014.
7-Qual é o profissional ligado ao jornalismo esportivo que você mais admira?
Tem muita gente boa, cada um com uma qualidade, um estilo, um jeito diferente. Gostaria de ter um pouco do que cada um tem de bom (mesmo os muito bons têm seus defeitos, e mesmo os ruins têm alguma qualidade). Para não citar muitos nomes, vou dizer que invejo muito o PVC pela sua memória, pelo seu conhecimento e por sempre procurar fazer a coisa certa. É um jornalista do bem que buscou se aprimorar, evoluir. E conseguiu. Não é só uma encicloplédia hoje. Ele apura e muito as informações, está sempre buscando a verdade, os bastidores, escuta todos os lados, não se prende a nenhum lado. Amadureceu como jornalista.
8-Você gosta/acompanha outros esportes ou só o futebol?
Acompanho sim, quase todos. Sou apaixonado por esporte, tenho uma irmã que é professora de educação física que desde cedo me levou a pistas de atletismo, piscinas etc. Sou um cara que adoro competição, seja lá do que for. Na ESPN, assisto quase tudo e me divirto com quase tudo. Fiz educação física na USP também e aprendi a valorizar todo tipo de atividade esportiva. É das melhores coisas que há na vida. Não sabia se trabalharia com jornalismo, mas tinha certeza de que trabalharia com esporte.
9-Os jornalistas ligados ao esporte podem torcer para um time mesmo tendo o compromisso de ser transparente?Qual seu time favorito no Brasil e na Europa?
Bom , acho que já te contei quais são meus principais times, mas tem mais um monte: Juventus (paulistano), Oita Trinita, Cienciano, Dínamo de Kiev... Eu pego simpatia por muitos times por gostar de algum jogador, da cidade, da história do clube, de ter algum amigo querido que o curte. É algo saudável gostar de uma equipe. E o jornalista esportivo tem time também, como qualquer amante do esporte. Normalmente, é a paixão por um clube que faz com que alguém se interesse por futebol, pelo esporte. Entendo os jornalistas que não revelam seus times, só acho bobagem ficar mentindo que torce pelo Ximbiquinha quando na verdade é torcedor de um clube famoso. Omitir é uma coisa, mentir é outra. Eu não forço a barra com meus trocentos times, pois a adoração pelo futebol internacional me levou para isso. Eu gosto de torcer, seja em qualquer situação. Via a NBA e torcia pelo Jordan, pelos Bulls. Via NFL e era 49ers. É mais legal ver uma competição e torcer por alguém, você se envolve mais. Mesmo que estejam jogando times pelos quais não simpatizo, costumo ter uma leve tendência por um deles. Muitas vezes acabo torcendo para um técnico ou para um jogador legal se darem bem. E às vezes acontece o contrário também. Não consigo deixar de torcer contra determinadas pessoas em determinados momentos.
10-Deixe uma dica para nós todos que sonhamos em ser jornalista.
Não desista. Corra atrás de seus sonhos, de seus objetivos. Na vida, a coisa mais importante é ser feliz, realizado. Se você sabe o que quer, se dedique ao máximo nesse sentido e trabalhe para realizar sua felicidade.
11-Obrigado pela entrevista. Deixe um recado aos leitores do blog Fut Writer.
Um abrááááááááááááááááço!
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