Foram precisos mais de 20 chutes a gol e, provavelmente, alguns picos de arritmia cardíaca. Mas, com choro e sufoco, os Estados Unidos se classificaram para as oitavas de final da Copa do Mundo da FIFA África do Sul 2010. Durante quase toda a partida desta quarta-feira diante da Argélia em Tshwane/Pretória, os americanos estiveram eliminados. Isso embora tenham tentado de tudo – incluindo aí bola na trave, inúmeras defesas do goleiro adversário Rais M’Bolhi e um interminável abafa na área com cinco atacantes durante boa parte do segundo tempo. Só nos acréscimos da etapa final, quando a partida era uma loucura de ataque de parte a parte, é que o gol saiu para a vitória por 1 a 0. Landon Donovan foi o herói da classificação daquele que, de repente, de eliminado, se tornou o líder do Grupo C com cinco pontos – mesma contagem da Inglaterra, que venceu a Eslovênia por 1 a 0. Após o empate em 2 a 2 contra a Eslovênia na segunda rodada – quando buscou uma desvantagem de 2 a 0 no segundo tempo utilizando três atacantes – os EUA entraram em campo dispostos a colocar em prática uma formação ofensiva desde o começo, com dois atacantes – Jozy Altidore e Herculez Gomez – constantemente ajudados por Clint Dempsey e Landon Donovan.
Para a Argélia, por outro lado, não havia outra opção para seguir com chances de classificação que não uma vitória. O resutado foi que, desde o início, a partida já tinha cara de decisão. Com seis minutos, num lançamento longo, a zaga norte-americana falhou e Rafik Djebbour matou no peito e acertou um lindo voleio no travessão. No rebote da jogada, contra-ataque dos Estados Unidos Herculez Gomez obrigou Rais M’Bolhi a espalmar para escanteio.
Era apenas o começo de um jogo emocionante de ataque e contra-ataque constantes, de ambos os times, algo que só se tornou mais intenso depois que a Inglaterra abriu o placar diante da Eslovênia em Nelson Mandela Bay/Port Elizabeth, com direito ao ex-presidente norte-americano Bill Clinton na plateia.
A alguns minutos do fim da primeira parte, os americanos tiveram duas chances claríssimas, sempre vindas dos pé de Landon Donovan: aos 33, ele deu lindo passe para Dempsey, que bateu travado e forçou M’Bolhi a uma boa defesa. Dois minutos depois, o camisa 10 tabelou, recebeu na área, tirou a bola do goleiro e a deixou com Jozy Altidore. De novo a defesa argelina chegou a tempo de atrapalhar e fazer com que o atacante chutasse por cima do gol. No intervalo, o técnico Bob Bradley adotou a mesma estratégia que levou à reação diante da Eslovênia: fez uma substituição aparentemente defensiva – um meio-campista, Benny Feilhaber, no lugar de um atacante, Herculez Gomez - mas que na prática deixou os EUA com três atacantes em Dempsey, Altidore e Donovan.
Foram os argelinos, porém, quem controlaram a posse de bola e passaram a tentar insistentemente com cruzamentos na área dos Estados Unidos – a quem cabia o contra-ataque. Em um desses, mais uma chance inacreditável, quando Altidore fez grande jogada pela esquerda e cruzou rasteiro. A bola desviou na zaga e sobrou para Dempsey, que tocou com perfeição no canto esquerdo. Ou quase com perfeição: a bola tocou na parte de dentro da trave e ainda voltou para o próprio camisa 8, que, desequilibrado, de esquerda, bateu para fora apesar de o goleiro já estar batido.
Depois da incrível chance, o jogo aos poucos começou a tomar outra cara: a da pressão dos norte-americanos. Sobretudo depois da entrada de ainda outro centroavante, Edson Buddle, no lugar de Maurice Edu. O meio-campo, oficialmente, inexistia: era ataque de um lado, contra-ataque do outro. Chance perdida por Altidore – que cabeceou à queima-roupa para defesa de M’Bolhi aos 23 -, outra na mesma moeda para Karim Ziani, que invadiu a área e bateu cruzado, para fora, no lance seguinte.
Hora de pressão e tudo ou nada. Aos 35, Bob Bradley ainda colocou outro jogador ofensivo, DaMarcus Beasley, no lugar do lateral Jonathan Bornstein. Mas, àquela altura, mais do que de composição tática, era hora de abafa: bola na área, chute de longe, gente chegando ao ataque vinda de todo lado. Se com organização não tinha funcionado até então, seria assim que o gol – ou a essa altura melhor dizer milagre? – viria. Foi num cruzamento para a área, com toque de Altidore e defesa de M’Bohli, que a bola sobrou para Landon Donovan. O camisa 10, organizador cerebral das jogadas do time, ali foi artilheiro. Explodiu uma festa que parecia fadada a não acontecer.
Ficha técnica
Estados Unidos 1x0 Argélia
Local: Estádio Loftus Versfeld, Pretória Data: 23/06, quarta-feira Árbitro: Frank de Bleeckere (BEL) Público: 35.827 Gols: Landon Donovan aos 46'/2T Cartões amarelos: Jozy Altidore e DaMarcus Beasley (Estados Unidos); Hassan Yebda, Anthar Yahia e Mehdi Lacen (Argélia) Cartão vermelho: Anthar Yahia (Argélia)
Estados Unidos 1-Tim Howard, 12-Jonathan Bornstein (7-DaMarcus Beasley aos 35'/2T), 15-Jay DeMerit, 3-Carlos Bocanegra e 6-Steve Cherundolo; 4-Michael Bradley, 19-Maurice Edu (14-Edson Buddle aos 19'/2T), 10-Landon Donovan e 8-Clint Dempsey; 17-Jozy Altidore e 9-Herculez Gomez (22-Benny Feilhaber no intervalo). Técnico: Bob Bradley.
Argélia 23-Rais M’Bolhi, 2-Madjid Bougherra, 5-Rafik Halliche e 4-Anthar Yahia; 21-Foued Kadir, 19-Hassan Yebda, 8-Mehdi Lacen e 3-Nadir Belhadj; 13-Karim Matmour (10-Rafik Saifi aos 40'/2T) e 15-Karim Ziani (17-Adlène Guedioura aos 24'/2T); 11-Rafik Djebbour (9-Abdelkader Ghezzal aos 22'/2T). Técnico: Rabah Saadane.
NOTAS
ESTADOS UNIDOS
Tim Howard: 5 - Quando exigido, esteve satisfatório. Jonathan Bornstein: 5 - Fez bem seu papel pela lateral-direita. DaMarcus Beasley: 4,5 - Entrou e foi discreto, não se somando bem à pressão no ataque. Jay DeMerit: 5 - Bem em campo. Não deixou saudades de Onyewu. Carlos Bocanegra: 5 - Um pouco mais inseguro do que o colega, mas não comprometeu. Steve Cherundolo: 5 - Apareceu algumas vezes pela lateral esquerda. Michael Bradley: 5,5 - Jogou bem. Não se limitou à marcação, avançando algumas vezes. Maurice Edu: 5 - Com os avanços de Bradley, ficou mais concentrado em desarmar. Edson Buddle: 5 - Entrou até bem. Mas desperdiçou ótima jogada no fim. Landon Donovan: 7 - A atuação sempre perigosa foi coroada com o gol decisivo. Clint Dempsey: 6,5 - Mais nervoso do que Donovan, mas também criou bastante. Jozy Altidore: 6,5 - Seus avanços rápidos pelos dois lados foram fundamentais. Herculez Gomez: 5 - Enquanto esteve em campo, foi útil ao ataque. Benny Feilhaber: 5 - Ocupou o papel de Edu na contenção dos argelinos.
ARGÉLIA
Rais M'Bolhi: 6 - Com boas defesas, fez com que os americanos demorassem a marcar. Madjid Bougherra: 4,5 - Permitiu muitos avanços adversários por seu setor na partida. Rafik Halliche: 5 - Teve uma atuação constante, sem cometer erros gritantes. Anthar Yahia: 4,5 - Um pouco mais inseguro do que o colega, foi expulso no fim. Foued Kadir: 5 - Conseguiu conter mais os norte-americanos pela esquerda. Hassan Yebda: 5,5 - Ajudou os armadores e até arriscou alguns chutes. Mehdi Lacen: 5 - Preferiu restringir seu papel à marcação. Nadir Belhadj: 4,5 - Apareceu muito menos do que podia na partida. Karim Matmour: 5,5 - Foi bastante ativo, chutando e criando chances no ataque. Rafik Saifi: Sem nota - Não teve tempo de mostrar serviço no meio. Karim Ziani: 5,5 - Assumiu o papel de protagonista no meio-campo. Adlène Guedioura: 5 - Tornou o meio-campo mais defensivo. Rafik Djebbour: 5,5 - Arriscou bastante, com chutes de longa distância. Abdelkader Ghezzal: 5 - Não foi patético como contra a Eslovênia, mas fez pouco.
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