sábado, 5 de junho de 2010

A Prancheta-Seleção da Inglaterra

Fabio Capello assumiu o comando técnico da seleção inglesa em novembro de 2007, após o fracasso de Steven Mclaren nas eliminatórias da Eurocopa. A expectativa era que o consagrado treinador italiano conseguisse se adaptar ao estilo dos jogadores e à imprensa sensacionalista dos tablóides britânicos e resolvesse os dois maiores problemas do “English Team” na década, incluindo as duas últimas Copas do Mundo: a falta de vibração e poder de decisão de um grupo de ótimo nível técnico e a dificuldade de encaixar Lampard e Gerrard na mesma equipe. Taticamente, a solução para manter o tradicional “four-four-two” sem abrir mão de seus mais talentosos meias foi passar Gerrard para o lado esquerdo e dar liberdade a Lampard para circular pelo campo. O deslocamento natural do craque do Liverpool para o centro abre o corredor para o apoio de Ashley Cole e não toma espaços do camisa oito do Chelsea, que vive fase esplendorosa atuando com toda liberdade no time londrino. No entanto, problemas não tão recentes e outros que atingiram a seleção em 2010 aumentam a preocupação na Terra da Rainha e ligam o sinal de alerta para o técnico vencedor e experiente. A mudança na escalação sem mexer no 4-4-2 ainda deixa a equipe “torta” nas manobras ofensivas, que acabam se concentrando na direita com Glen Johson e Lennon ou Walcott voando pelo setor. Com a provável ausência de Barry, o volante mais plantado, a tendência é que Carrick assuma a vaga no meio-campo. A entrada de Milner pela esquerda não está descartada, mas escalar Gerrard e Lampard novamente como meias centrais parece um retrocesso. A menos que Capello resgate o 4-1-4-1 armado por Sven-Goran Eriksson no último Mundial e deixe Rooney isolado à frente. Em quase três anos de trabalho, a comissão técnica não conseguiu definir o titular da camisa 1. Robert Green, do West Ham, deve ser o escolhido no início do Mundial, mas Joe Hart corre por fora como um plano B e David James tem a experiência de 49 participações com a camisa de seu país. Nenhum deles é garantia de segurança. Menos mal que a dupla de zaga formada por Ferdinand e Terry é das melhores do mundo e o sistema defensivo é sólido e organizado. No ataque, segue a indefinição. Após boas atuações, Peter Crouch parece mais próximo da titularidade, ganhando a posição de Heskey. Porém, considerando que a contusão mal curada no tornozelo direito de Wayne Rooney pode limitar seus movimentos, a entrada de Defoe como o atacante de movimentação para deixar o “Shrek” mais fixo na frente, como vinha atuando e rendendo no United, não deve ser desprezada. Até porque o móvel avante do Tottenham flutua bastante pela esquerda e deixaria o time mais equilibrado. No mais, cabe ao treinador administrar qualquer sequela que tenha ficado no grupo por conta do escândalo John Terry versus Bridge e manter acesa a chama que transformou a frieza que tangenciava a indiferença na intensidade de uma seleção que hoje sabe que pode mais e trabalha pensando em repetir a campanha vitoriosa de 1966. A trajetória na primeira fase não deve ser das mais complicadas. A tendência é que a estreia contra os Estados Unidos defina o primeiro lugar do Grupo C, já que a Argélia e Eslovênia não são motivo de maiores preocupações. Porém, as derrotas para França, Brasil (com os reservas) e Espanha deixam no ar a dúvida quanto às chances da seleção inglesa em confrontos mais parelhos. A vitória sobre a Alemanha fora de casa por 2 a 1 precisa ser a referência de Capello para trabalhar a cabeça de um grupo confiante, mas que ainda carrega os pesadelos de tempos não tão remotos. Os resultados, a qualidade técnica e, principalmente, a presença de Capello à beira do campo formam a base do favoritismo inglês. Resta saber se a competência e o carisma do comandante multicampeão serão capazes de superar o estigma do fracasso dos inventores oficiais do futebol em Copas do Mundo.

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