Não vi na semifinal da Liga dos Campeões, entre Barcelona e Inter de Milão, o confronto Brasil x Argentina que muita gente anunciou. Havia muitos brasileiros no Inter, mas também argentinos; e Daniel Alves, jogador importante no esquema da seleção, é um dos principais coadjuvantes de Messi no Barça. Principalmente no jogo desta tarde, ficou claro para mim que havia outra dicotomia em campo: o estilo Dunga x o estilo anti-Dunga. E adivinha quem ganhou? Thiago Gouveia, meu companheiro de trabalho no Sportv News, soltou ontem uma frase interessante: “Eu não gosto de quem não gosta do Barcelona.” E explicou em seguida: “É um clube que decidiu que só teria times que joguem bonito.” Faz sentido. Mas a discussão sobre uma suposta incompatibilidade entre jogar bonito e ganhar parece ser mais velha do que o futebol. Os generais chineses já deviam discutir se é melhor chutar a cabeça decepada do líder adversário com estilo ou com objetividade.
Dunga não esconde sua opção de ninguém. Nas entrevistas coletivas, esse é um dos temas preferidos de seus confrontos com os jornalistas (e até o outro, a cobrança por jogadores que ele não convoca, passa um pouco por aí, já que os cobrados são quase sempre atacantes habilidosos como Neymar e Ronaldinho Gaúcho). E mesmo longe das câmeras tem a mania de soltar, no meio de qualquer conversa: “Não ganharam nada!” É um brado contra a seleção de 82, que o campeão de 94 considera uma geração supervalorizada.
O Inter de José Mourinho – treinador muito mais badalado do que Dunga no cenário internacional – tem a espinha dorsal da defesa da seleção brasileira: Júlio César, o melhor goleiro do mundo; Maicon, um lateral-direito a quem a torcida do Brasil já começa a se render, embora a maioria ainda prefira o estilo virtuoso de Daniel Alves; e Lúcio, um zagueiro que depois de duas Copas já beira a unanimidade, embora de habilidoso não tenha nada. E é com eles, mais os argentinos Samuel, na zaga, e Cambiasso, no setor de marcação do meio de campo, que Mourinho constrói a base de seu time. Nesse ponto, o superastro português e o ainda contestado brasileiro se encontram: seus times são montados de trás para a frente. Primeiro vamos evitar os gols; depois tratamos de fazê-los.
O Barcelona não tem o estilo de Maradona, que por sinal ainda não tem estilo nenhum como treinador – a não ser que trapalhão e presepeiro já possam ser definidos como estilo. Mas é montado em função de outro argentino, o craque Messi. E seria montado em torno dele, fosse Messi brasileiro como Kaká ou português como Cristiano Ronaldo. E como, aliás, já foi em torno de Ronaldinho Gaúcho. O espírito do clube catalão, que faz o Thiago não gostar de quem não gosta do Barça, é atacar. Outro amigo, Toninho Neves, que já postou nesse blog, defende que o futebol brasileiro deveria seguir essa linha. Segundo ele, aqui quem manda é o jogador, e por isso o time dele, o Santos, está dando tão certo. E por isso, escreveu-me num e-mail, a seleção de 2002 foi campeã do mundo: Felipão deixou Ronaldo, Ronaldinho e Rivaldo resolverem as coisas lá na frente.
No jogo ruim desta tarde, prevaleceu o estilo do Inter – que, justiça seja feita, só pôde armar aquele retrancão no Camp Nou porque tinha feito três gols em Milão. Um resultado desses, numa das partidas mais importantes do ano, é mais um argumento para Dunga. Não que ele precise, claro. E você ainda tem esperança de ver o Neymar na Copa do Mundo?
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